Confira artigo publicado pela professora Raquel Dias, do Centro de Educação da UECE e vice-presidenta da SINDUECE, publicado nesta sexta-feira (12) no Jornal O Povo.
Revogação imediata do Novo Ensino Médio
A imposição do Novo Ensino Médio (NEM), em um momento de ruptura democrática, sem diálogo com docentes e estudantes, entidades acadêmicas, sindicais e estudantis, tem produzido críticas e resistências, desde o início, inclusive com ocupações de escolas públicas pelos estudantes, em 2016. Recentemente, mesmo com as mudanças das forças políticas em âmbito nacional, contrariando as expectativas do setor educacional por outros rumos, intensificaram-se os questionamentos.
As críticas giram em torno, principalmente, da oferta dos itinerários formativos e das trilhas denominadas "brigadeiro caseiro", "mundo pet", "RPG", "o que rola por aí", supostamente, atendendo às necessidades dos estudantes e baseados em seu "projeto de vida", em substituição às disciplinas antes obrigatórias, como, história, geografia, sociologia, filosofia etc.
Ora, por que o projeto de vida dos estudantes da escola pública se limitaria a aprender a fazer brigadeiro caseiro? Será que os itinerários da escola privada apontam para essas mesmas trilhas formativas? Vende-se a ideia de um "novo" em oposição a um "velho" ensino médio, o qual teria, agora, muitas opções, à disposição dos estudantes, mas não é bem assim, pois quem escolhe é a rede de ensino a depender de suas condições objetivas. Então, as escolhas dos estudantes são bastante limitadas.
O currículo do NEM passará de 2400 para 3000 horas, mas apenas 1800 horas serão norteadas pela BNCC, abrangendo as quatro áreas do conhecimento (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas e sociais aplicadas), tendo uma diminuição de 600 horas com relação à carga horária anterior, e a oferta de, no mínimo, 1200 horas dedicada ao aprofundamento em uma dessas áreas e/ou na formação técnica profissional, gerando um estreitamento curricular e empobrecimento cultural.
Por isso, não basta suspender o cronograma de implementação do NEM pelo prazo de 60 dias, após a conclusão da Consulta Pública para sua reestruturação. É preciso revogar o NEM e todas as medidas que o sustentam, como a BNCC e BNC Formação.